Valeu a pena ler o livro Nos olhos de Sara da autora Cleu Nacif?

 
Dois caminhos opostos se cruzam porventura do destino, ou do acaso.
Uma jovem revisora que trabalha em uma revista de culinária e um andarilho faminto. Ela usava um sobretudo cor de rosa e ele era todo da cor do asfalto. Até um dia em que seus olhos se encontraram.
Olhos de medo, apreensão, de socorro.
Sara levava uma vida estável, tinha um trabalho que não lhe agradava, mas que também não detestava, o que já era uma vitória e, nas horas vagas, passava o tempo com sua melhor amiga da época da escola. Um dia, voltando tarde para casa, ela avistou um vulto entre as sombras da rua que não saberia dizer se era real ou fruto de sua imaginação.
Uma situação inesperada irá uni-la a esse vulto. Completos desconhecidos, amedrontados um com o outro. Não será apenas a vida deles que mudará após esse encontro.




Ano: 2020 / Páginas: 168

Classificação:




Responda rápido: Você tem preconceito com alguma coisa? Se sua resposta for não, então você não se conhece tão bem! Calma, eu também achava que me conhecia até ler esse livro. Nos olhos de Sara é o tipo de enredo que chega de mansinho como não querendo nada, mas quando menos esperamos estamos entregues às lágrimas, nos sentindo mal por toda a situação, além de sentir culpa por nosso preconceito recém descoberto.

O nosso guia para essa autodescoberta é Sara. É através das reações dessa personagem que confrontamos nossos próprios medos, julgamentos e reações nada agradáveis. No momento em que Sara se confronta com o não familiar, com o desconhecido e o diferente, os sentimentos da personagem e do leitor se misturam, e ai, meu amigo, é nesse momento que as lágrimas surgem, porque percebemos que não somos tão perfeitos assim, ou que infelizmente somos parecidos com aquele vizinho ou familiar que julgamos preconceituoso.

O enredo aparentemente se mostra leve, mas sua carga dramática e as críticas sociais evoluem na medida que avançamos na leitura. Naturalmente, a cada página conhecemos mais um pouco de Sara, a heroína da história, a mulher que abriu sua casa para um desconhecido, que abriu sua carteira para ajudar a cachorrinha Gengibre a se salvar.

Devo confessar que ao ler e acompanhar o sofrimento de Gengibre senti  um nó dolorido  na garganta, pois infelizmente Gengibre representa vários animais abandonados que vivem nas ruas, que são ignorados, maltratados e, na maioria das vezes, mortos por pura maldade humana.

Mas o livro vai mais além. Será que são só animais, em sua maioria cães e gatos, que recebem tanta maldade, tanto desprezo? NÃO! Nas ruas também existem crianças, jovens, adultos e idosos que buscam sobreviver, apesar do pouco que tem e, na maiorias das vezes, eles não têm nada. Eles compartilham também com os cães e gatos ou qualquer animal que busca ajuda. Essas pessoas também sofrem com a maldade dos seus semelhantes; não se pode viver nas ruas, apenas sobreviver.



Bato palmas e tiro o chapéu para a autora que soube mesclar essas críticas no enredo, dando visibilidade para os invisíveis.

Vamos falar um pouco sobre Sara!

Sara é a personagem central do enredo, é através dela que iremos refletir sobre as questões já mencionadas nos parágrafos anteriores. Apesar de sua vida ser uma correria, ela prontamente auxilia a pessoa de rua que busca ajudar um animal atropelado. 

Mesmo com receio (que é compreensivo) Sara rapidamente toma conta da situação.  É justamente nesse momento que questões são levantadas. A mente do leitor tenta repreender, dizer que esse comportamento é arriscado, que aquela pessoa suja poderia ser muito bem um psicopata, estuprador ou ladrão. Adjetivos negativos que na maioria das vezes não pensamos caso a pessoa esteja limpa, cheirosa e bem arrumada. Mas na realidade sabemos que o mal não tem uma aparência clara, mas o ser humano sempre repugna o que é feio, o que vai contra os padrões!

Observando por esse lado Sara é uma heroína, pois, mesmo com medo busca ajudar quem lhe pede ajuda e busca também fazer o seu melhor. Todavia, dentro dessa armadura de herói, existe ao mesmo tempo uma mulher complexa, com atitudes e comportamentos nada admiráveis. 

Ao longo da narrativa conhecemos Sara mais intimamente e percebemos que ela precisa muito amadurecer, apesar de ser adulta, dona da sua própria vida, na verdade ela ainda estar perdida e não percebe situações como violência sexual.

Vamos lembrar do famoso caso da Capitu: Capitu traiu ou não traiu Bentinho? No caso desse livro uma das questões levantada é: Sara sofre abuso sexual ou não? No grupo da leitura coletiva que participei essa questão foi levantadas e houve várias opiniões diferentes sobre isso.

É realmente um livro cheio de surpresas!


Considerações finais!

Apesar da capa ter uma pegada de livro paradidático (o que, nesse caso, não gostei muito), é um livro que me surpreendeu muito, seja pela história, pela carga dramática e pelas criticas sociais. Uma história complexa, unindo a ficção com personagens humanizados. Na vida real não existe ninguém perfeito, somos seres ambíguos, o bem e o mau vivem dentro de nós, então os personagens dos livros também deveriam ser assim, e no caso desse livro Sara representa  muito bem esse universo complexo que é a humanidade.

Com toda certeza esse livro entrará para o top 10 de leituras favoritadas de 2020!


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