Meu novo poeta preferido: Antônio Nobre

 

Olá, leitores!

Hoje venho dividir com vocês um poeta português que conquistou meu coração: António Nobre. Atualmente, estou estudando sobre o Simbolismo português, um movimento literário e artístico que se desenvolveu no final do século XIX.

Durante o estudo, conheci os principais autores do Simbolismo português: Almeida Garrett, Fernando Pessoa e Camilo Pessanha. No entanto, há uma figura central que, embora se encaixe no Simbolismo, apresenta características de outras influências literárias, devido à sua poesia lírica e emotiva, que traz temas como o sofrimento, a morte, o amor, a melancolia e a nostalgia.



Biografia de António Nobre

António Nobre (1867-1900) foi um poeta português, criou uma arte singular, aliando a subjetividade do Romântico ao poder de sugestão do Simbolismo.

António Pereira Nobre, conhecido como António Nobre, nasceu no Porto, Portugal no dia 16 de agosto de 1867. Filho de família abastada, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Após ser reprovado por duas vezes, abandonou o curso. Em 1890 se mudou para Paris, onde se formou em Direito pela Universidade de Sorbonne em 1895.



Fazia tempo que eu não me interessava por poesias. A poesia, ao contrário da prosa, exige muita atenção, devido às imagens sensoriais, alegorias e metáforas, que muitas vezes são tão abstratas que se tornam difíceis de compreender, e até mesmo de sentir a emoção que o poeta deseja transmitir – pelo menos é assim comigo.

No entanto, após estudar um pouco sobre o Simbolismo, suas características e, em seguida, conhecer a biografia dos poetas, percebi como isso fez toda a diferença na leitura. Dessa vez, ao contrário das outras, senti-me mais conectada ao eu lírico da poesia.

Foi exatamente o que aconteceu com este soneto: conhecer a vida do autor fez toda a diferença.

CANÇÃO DA FELICIDADE (ideal dum parisiense)


Felicidade! Felicidade!
Ai quem ma dera na minha mão!
Não passar nunca da mesma idade,
Dos 25, do quarteirão

Morar, mui simples, nalguma casa
Toda caiada, defronte o Mar;
No lume, ao menos, ter uma brasa
E uma sardinha pra nela assar…

Não ter fortuna, não ter dinheiro,
Papeis no Banco, nada a render:
Guardar, podendo, num mealheiro
Economia pró que vier.

Ir, pelas tardes, até à fonte
Ver as pequenas a encher e a rir,
E ver entre elas o Zé da Ponte
Um pouco torto, quease a cair.

Não ter quimeras, não ter cuidados
E contentar-se com o que é seu,
Não ter torturas, não ter pecados,
Que, em se morrendo, vai-se pró Céu!

Não ter talento; suficiente
Para na vida saber andar,
E quanto a estudos saber somente
(Mas ai somente) ler e contar.

Mulher e filhos! A Mulherzinha
Tão loira e alegre, Jesus! Jesus!
E, em nove meses, vê-la choquinha
Como uma pomba, dar outra à luz.

Oh! grande vida, valha a verdade!
Oh! grande vida, mas que ilusão!
Felicidade! Felicidade!
Ai quem ma dera na minha mão!

Antônio Nobre teve uma saúde frágil ao longo da vida, sofrendo de várias doenças, como a tuberculose, que o afetaram profundamente, tanto física quanto emocionalmente. Embora o poema não seja necessariamente uma descrição direta da doença que ele enfrentou, ele se apresenta como uma reflexão sobre as pequenas alegrias da vida e a possibilidade de encontrar felicidade nas coisas simples. Pelo menos na minha interpretação, após conhecer sua biografia, o poema também pode ser entendido como uma expressão dos desejos que ele nutria e das dificuldades que enfrentou. Seguindo essa perspectiva, ao relê-lo, meu sentimento em relação ao soneto mudou completamente, deixando-me com o coração partido.

Infelizmente, o autor teve apenas um único livro publicado, intitulado Só, lançado em Paris em 1892. Esta obra é considerada um marco da poesia portuguesa no século XIX, caracterizada pelo pessimismo, pela lamentação e pela nostalgia. O eu lírico evoca o passado, a saudade de casa, da mãe e do lar, compondo um retrato profundamente melancólico.

Devo dizer que é impossível não se emocionar. O leitor sente, de fato, a dor de estar praticamente morto em vida, o sufoco da desesperança e uma tristeza esmagadora. Confesso que até senti saudade de algo que nunca vivi.

Eu, que sou naturalmente melancólica, absorvi com facilidade o clima presente nestas páginas. Ainda estou impressionada com o fato de que uma pessoa que viveu há 132 anos conseguiu traduzir para o papel exatamente aquilo que sinto. É assombroso.

Se você ficou curioso(a) para conhecer as poesias de Antônio Nobre, segue o link do site que disponibiliza o e-book gratuitamente. Vale lembrar que é um projeto que promove a literatura portuguesa, com livros que estão em domínio público: https://projectoadamastor.org/so-antonio-nobre/

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