Lembro bem do impacto da minha primeira avaliação negativa. Três linhas que mexeram com meu emocional, me fizeram questionar a capacidade e a habilidade que pensei ter como escritora. Fiquei noites sem dormir, remoendo aquelas palavras. Perdi as contas de quantas vezes entrei na Amazon só para reler o comentário, olhar o nome e a foto – uma imagem da Branca de Neve – da pessoa que avaliou.
Sim, levei para o lado pessoal. Era meu primeiro conto publicado de forma independente na Amazon, e aquelas poucas linhas tiveram o poder de abalar minha paz. Levei meses até encontrar coragem para publicar algo novo.
Para nós, escritores, não é fácil receber uma avaliação negativa, muito menos ver uma ou duas estrelas. Somos condicionados a esperar apenas elogios, o que é uma bênção para o ego, mas um veneno para o aprendizado. Quando somos elogiados demais, tendemos a achar que já alcançamos nosso potencial, quando, muitas vezes, ainda estamos longe do segundo degrau de uma longa escada.
Sei bem como avaliações negativas podem fazer qualquer um de nós duvidar de si. A gente sofre, e sofre muito.
Mas, como leitora – e aqui falo com a experiência de quem lê há mais tempo do que escreve – vejo com preocupação essa tendência de alguns autores em revidar, expor comentários negativos, por mais duros que sejam. Esse é um caminho que não deveria ser trilhado.
Eu odiaria ver um autor acessando meu perfil no Skoob ou qualquer outra plataforma, pegando uma resenha minha que talvez não fosse tão positiva e me expondo como ré em um tribunal virtual, o pior tribunal do mundo. Uma nova caça às bruxas – só que, desta vez, contra leitores. Simplesmente porque eu, como leitora, escrevi uma resenha baseada na minha experiência – que é única..
As resenhas no Skoob ou em outras plataformas são, em sua maioria, de leitores comuns. São genuínas, movidas por sentimentos reais – ou pela ausência deles.
Como leitora, fico assustada ao ver, dia após dia, colegas escritores expondo leitores. Lembro como, em meados de 2004, era difícil encontrar uma comunidade de leitores na internet. Precisávamos caçar as informações. O que havia eram revistas listando os mais vendidos, em sua maioria de autores estrangeiros. Quando finalmente encontrei uma comunidade literária que trocava opiniões, foi no finado Orkut e em fóruns espalhados pela internet. E, ainda assim, só conseguia acesso quando, por acaso, encontrava alguém que já fazia parte.
Naquele tempo, era quase impossível encontrar as famosas resenhas, que hoje aparecem facilmente no Instagram, Skoob e Amazon (embora eu sempre analise as avaliações da Amazon com cautela – mas isso é conversa para outra postagem).
Foi só em 2010, quando criei meu blog, que passei a conhecer outros blogs literários, como o *Livros & Fuxicos* e outros que surgiram na mesma época. Hoje, existe uma comunidade literária vibrante em todas as redes sociais. Temos leitores discutindo livros em toda parte, especialmente literatura nacional, divulgando e dando voz ao que é produzido aqui no país.
E agora, justamente quando há milhares de leitores falando sobre e divulgando literatura nacional, estamos vivendo uma era de “castração”. Uma caça aos leitores. Se a resenha tiver uma única linha mencionando algo negativo, o leitor já é tratado como réu.
Será que nós, leitores, para termos a liberdade de criar uma resenha sincera, baseada na nossa experiência de leitura, vamos precisar nos esconder atrás de pseudônimos?
Dói receber uma avaliação ruim, dói saber que nossa escrita não funcionou para a pessoa X. Mas ser autor é isso: há momentos de glória e há momentos difíceis. Não devemos calar os leitores ou impedi-los de compartilhar suas experiências, porque literatura é isso – ela mexe de formas diferentes com cada leitor.
Para encerrar, deixo aqui um ditado popular como conselho:
“O que os olhos não veem, o coração não sente.”
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